25 junho, 2022

Resenha: Os Sete Maridos Evelyn Hugo - Taylor Jenkins Reid


"A gente pode lamentar algumas coisas, sem necessariamente se arrepender delas"

Confesso que romance nunca foi meu gênero preferido, mas acabo dando uma chance dependendo da trama e ambientação. E foi justamente pela ambientação que Taylor Jenkins chamou minha atenção, já que cinema e música são dois assuntos que tenho afinidade. 


Logo no início nos deparamos com a fluência (apesar de alguns problemas), a narrativa decorrente da forma jornalística, feminismo/representatividade e uma protagonista de beleza utópica e personalidade complexa que desperta amor e ódio. Elementos comuns entre o este livro e Daisy Jones, primeiro que li da autora.

Taylor Jenkins sabe explorar a atração que a fama pode ter, tanto dentro da própria trama quanto para fisgar a atenção do leitor. Para isso, se inspira em uma Hollywood em época de transição e declínio da era de ouro e Studio System, inspiranda por algumas das maiores estrelas da época, como Merilyn Monroe e Elizabeth Taylor, que também teve sete maridos e vários dos problemas enfrentados pela personagem. A retratação de uma época cheia de glamour, riqueza e frenesi de público e mídia correndo junto com jogos de poder, relações convenientes e falsas aparências, ganha fácil o leitor e se destaca como ponto forte do livro.

A representatividade, a forma com que a violência doméstica, a intolerância quanto a orientação sexual na época e a sutileza ao descrever as cenas mais sexuais, também são assertivas e justificam o motivo pelo qual o livro é tão querido. Uma vez que o leitor tem um “feeling” a mais com tudo que está sendo contado, um apreço por romances e imerso no enredo, passará batido pelas falhas.

Existem acertos e erros dentro dos mesmos aspectos. Seja em narrativa, construção de personagens e debates. E são neles que darei mais ênfase por notar que são pouco explorados nas resenhas.

Se sobra naturalidade e sutileza em cenas românticas e sexuais, faltam na hora de induzir algumas coisas, como o real motivo pra Evelyn Hugo querer a jornalista ainda iniciante, Monique, para escrever sua biografia. A ideia era causar suspense, mas alertam de forma tão contundente no início, e ao longo de todo o livro, para esse fato, que nos faz chegar a respostas bem antes do momento, ainda que não exatamente na forma que aquilo vai se dar. Guardem isso, voltarei a esse ponto quando falar sobre a personagem.

Outro aspecto conflitante foi a forma que as coisas são narradas. Uma vez que Evelyn está CONTANDO para a jornalista sobre sua vida, não faz sentido ela se lembrar com precisão de diálogos de 50 anos atrás. Você conta o ocorrido, as sensações e somente diálogos pontuais e marcantes (como o diálogo de um Oscar, os votos de um casamento...). Pode ser preciosismo estético, mas é um erro dentro da verossimilhança da forma narrativa escolhida. E tanto a autora sabe disso, que aprimorou na narrativa de entrevista de Daisy Jones. Esse ponto servirá melhor como background em sua adaptação, que caberá lembranças mais exatas, uma vez que o passado será remontado em cenas.

Como ritmo, o livro começa bem e equilibrado, a partir de um certo ponto, lá pelo meio, a forma com que as coisas acontecem ficam repetitivas, com idas e vindas cansativas, além da impressão de que não eram realmente necessários tantos maridos. Separações e casamentos colados, sem que o amadurecimento e consolidação da personagem interrompesse essa impulsividade, e com a mídia convenientemente distantes de descobrir mentiras.
Mas nem tudo é descartável, mesmo nessas horas existem momentos bons que te ajudam a passar por essas barreiras. Quando chegamos em 75 - 80%, o livro volta a ganhar fôlego, cresce e cria um turbilhão de acontecimentos e sensações.

Quanto aos personagens, Harry Cameron é um acerto, sendo o mais cativante e de grande importância. Celia tem seu valor construtivo e sua alma. Connor acaba sendo renegada a momentos bem iniciais ou nas ausências de Celia, o que, pra mim, é uma pena e um equívoco, dado quem é. Já Monique é uma personagem criada para duas funções muito claras, mas que fica no limbo entre ser apenas um fio condutor (quase um MacGuiffin) e uma protagonista fora da própria história narrada por Evelyn. Isso porque a sua condução é falha. Ela inicia e fecha a história, conhecemos superficialmente sua vida e seu trabalho, mas durante 250 páginas só volta ao foco quando precisa atender uma ligação ou é mandada para casa por já ser tarde. Sendo que seu efeito final nem é necessário para termos o que de melhor existe na história. E até no momento que ela entra em debates importantes, como o da “não rotulação de uma pessoa”, se estende por uma página inteira, quebrando a naturalidade e criando uma ruptura na narração, dando a impressão de ser uma palestra da própria autora aos leitores por fora da cena.

Algumas passagens, principalmente em diálogos, soam preguiçosas ou contraditórias. Como no momento que Evelyn rasga elogio para a recém conhecida jornalista apenas por ela dizer algo básico, contrapondo a personalidade recém-criada de durona e imponente. Comentário esse que até faria sentido se tivesse sido em outro momento ou com melhor construção.

O saldo final é um livro que tem muita força no início e cativa pelo seu enredo, com linguagem fácil e fluida na maior parte do texto, mas que peca na inconstância do tom da escrita, nas repetições das situações e nas incoerências narrativas.

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4 comentários:

Geralmente vejo as pessoas endeusando o livro. É bom ver alguma resenha esclarecendo os pontos positivos e negativos. Soube que vai sair filme ou série, vou esperar, começar a assistir e aí decido, pois também não sou do team "romances".
 
Geralmente vejo as pessoas endeusando o livro. É bom ver alguma resenha esclarecendo os pontos positivos e negativos. Soube que vai sair filme ou série, vou esperar, começar a assistir e aí decido, pois também não sou do team "romances".
 
Sinceramente, esse é um livro que eu não tenho curiosidade e interesse pra ler. Pelo menos ouvi uma pessoa sendo sincero a respeito dele..
 
Ainda não li esse mas vejo muito hype em cima fico com receio e ao mesmo tempo com vontade akkakaka
 

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