04 junho, 2022

Resenha: O Vilarejo - Raphael Montes



 
Um horror dinâmico de alegoria crítica.


- Tenha esperança!
- Não adianta ter esperança... fomos esquecidos.
- Esquecidos por quem, meu filho?
- Pelo mundo. Por Deus - reflete o homem.
- Ou talvez tenham sido lembrados pelo Diabo. 

Embora já tivesse escutado muito sobre o autor, O Vilarejo foi meu primeiro contato com Raphael Montes. A primeira coisa que me chamou atenção foi a violência. O livro, em sua maioria, é bruto. Não se trata de um livro tão psicológico ou focado no suspense e terror, e sim de Horror. Você encontrará cenas mais viscerais, algumas até nojentas, personagens detestáveis, algumas descrições bem preconceituosas por parte dos personagens (Já ouvi criticas ao autor quanto a essa questão, mas a julgar por esse livro, achei coerente com os personagens e narrativa). Se essas coisas te incomodam, talvez não seja uma leitura indicada.

Gosto muito dos contos serem interligados e, aos poucos, criarem um mosaico do próprio vilarejo e seus habitantes. É um recurso interessante pra um livro de contos, como se fosse uma ópera rock.
Os capítulos são curtos, a escrita é bem fluída, simples e direta. Com tudo isso, não espere descrições aprofundadas sobre locais. O importante aqui é o tom da trama e as ações dos personagens. O posfácio é a pérola mais criativa do livro.

Como fui sem saber do que se tratava, coube a mim entender a ideia central do livro, o que aconteceu próximo a metade da leitura. Acredito que já saber o conceito dos pecados, explorado na própria sinopse, deixe tudo mais previsível. Embora não seja um livro de muitas surpresas e plots mirabolantes, depois que entendi a ideia central, tudo ficou ainda mais fácil de interpretar o rumo que os contos e o próprio livro geral iria tomar. Principalmente se você souber quem são os demônios de cada capítulo.

O saldo final é um livro de horror cru e direto, que te prende e faz uma crítica alegórica legal, mas nada inovadora de um tema um pouco batido para histórias do gênero.

Obs: Cheguei a ver algumas críticas dizendo que o livro não fazia sentido nenhum, que era "sem pé, nem cabeça", o que me parece inconcebível. Posso entender vários motivos para alguém não gostar muito do livro, desde originalidade, até forma, mas dentro da sua simplicidade, O Vilarejo é muito conciso em sua proposta, e tem no seu último conto, um diálogo até desnecessariamente expositivo para pode arredondar as arestas pra quem talvez não tenha entendido a moral da história.


1 comentários:

Tenho uma relação de amor e ódio com Raphael Montes. Eu tenho percebido essas descrições e estereótipos de personagem em quase todas as obras que li dele e sinceramente, não sei o que pensar da forma de escrita do autor ou a forma como ele gosta de passar as ideias .
 

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