Mas, afinal, o que é o folclore?
Folclore é o conjunto de tradições, costumes, lendas, músicas, danças, crenças e conhecimentos populares que são transmitidos de geração em geração. Antes de serem registrados, os mitos e lendas do folclore brasileiro eram transmitidos oralmente. Povos indígenas, africanos escravizados e colonizadores portugueses trouxeram suas histórias e tradições, que se misturaram e evoluíram no contexto brasileiro ao longo dos séculos, formando uma cultura única e vibrante.
O folclore desempenha um papel fundamental na preservação da nossa identidade cultural. Através das personagens e histórias, conhecemos os valores, medos e aspirações das gerações passadas e mantemos viva a memória de povos e tradições que moldaram o Brasil.
Origem na literatura e o movimento modernista
O folclore brasileiro começou a ser registrado na literatura no século XIX. Um dos primeiros estudiosos a documentar essas tradições foi Sílvio Romero, que coletou e publicou histórias populares. Mais tarde, Câmara Cascudo se tornou uma referência na pesquisa e documentação com obras como "Dicionário do Folclore Brasileiro". Na literatura infantil, Monteiro Lobato foi fundamental ao popularizar personagens como Saci-Pererê e a Cuca, em suas obras da série "Sítio do Picapau Amarelo".
Outro autor importantíssimo foi Mário de Andrade, um dos primeiros intelectuais a reconhecer e valorizar a cultura popular brasileira, considerando-a uma fonte legítima de identidade nacional. Ele acreditava que o folclore era uma parte essencial da cultura brasileira e deveria ser estudado, preservado e promovido.
O Modernismo Brasileiro, com a Semana de Arte Moderna de 1922 e forte senso nacionalista, foi crucial para a valorização do folclore, uma vez que procuravam romper com as convenções da arte europeia e buscaram inspiração no Brasil profundo — na sua geografia, em sua gente e em suas tradições. O folclore passou a ser visto não como algo inferior ou primitivo, mas como uma fonte rica e autêntica de criatividade. A ideia era que o conhecimento e a valorização do folclore poderiam fortalecer a coesão social e a identidade cultural. Assim, "Macunaíma", de Mario de Andrade, se tornou o expoente maior da literatura para o movimento.
No Cinema e TV
No cinema, filmes como "O Saci" (1953), dirigido por Rodolfo Nanni, foram baseados nas obras de Monteiro Lobato e ajudaram a popularizar personagens para o grande público. Durante o movimento do Cinema Novo nos anos 1960, cineastas brasileiros começaram a explorar temas nacionais e culturais, incluindo o folclore, como parte da busca por uma identidade cinematográfica brasileira.
Cordel também é Folclore
O cordel é originado em relatos orais e depois impresso em folhetos, frequentemente na forma de poesia rimada, com muita musicalidade e comumente ilustrados com xilogravuras.
Outras indicações de obras que trabalham folclores e regionalismos.
O cinema e a literatura brasileira são ricos em obras que exploram o folclore. Veja abaixo algumas dicas indispensáveis para quem deseja mergulhar nesse universo:
Nas águas do Rio Negro, de Drauzio Varella: O autor conta a história de um médico que, durante uma expedição no rio Negro, se perde na floresta - e a partir daí vive aventuras surpreendentes ao lado de seres míticos do folclore brasileiro, como o curupira, a mula sem cabeça e o boto cor-de-rosa.
Os meninos que viraram estrelas e outras histórias do Brasil, de Sávia Dumont: Treze histórias recolhidas em todo o Brasil, protagonizadas por figuras como a mula-sem-cabeça, o lobisomem, a cuca, o mão-pelada, o minhocão e a carnaubeira. Segundo a lenda que dá título ao livro, originária da tradição indígena do Mato Grosso, as estrelas são lágrimas de indiozinhos que comeram a comida dos guerreiros.
Cidade Invisível, série da Netflix: Esta série brasileira mistura elementos do folclore com uma narrativa policial moderna. Após uma tragédia familiar, um homem descobre criaturas folclóricas vivendo entre os humanos e logo se dá conta de que elas são a resposta para seu passado misterioso. Personagens como o Saci, a Cuca e a Iara são retratados de forma surpreendente.
Bacurau: Dirigido por Kleber Mendonça Filho, conta a história de um pequeno povoado no sertão brasileiro que desaparece misteriosamente do mapa. Quando descobrem que estão sendo atacados por estrangeiros que chegam à cidade, baleam carros e deixam cadáveres para trás, eles buscam maneira de se defender.
O Menino e o Mundo: É uma animação que conta a jornada de um menino em busca de seu pai, passando por diferentes lugares do Brasil e encontrando personagens como Iara, Curupira e Boitatá..
O Auto da Compadecida: Obra de Ariano Suassuna que ficou eternizada no cinema pelos personagens João Grilo e Chicó, vividos respectivamente por Matheus Nachtergaele e Selton Melo
Ao explorarmos essas lendas e mitos, não apenas nos divertimos, mas também aprendemos a valorizar e preservar a rica herança cultural que temos. Que tal aproveitar essa data para mergulhar em um bom livro ou maratonar uma série que traga o folclore brasileiro à tona?
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